Two Ways
3 – "A guerra continua até o momento. Se alguém sugerisse que a história da humanidade é a história da guerra, poucos concordariam. Se existe um conceito tal como o progresso para a humanidade, ninguém pode dizer que o progresso não é um resultado da guerra. Talvez por que os seres humanos sejam animais que continuarão a lutar até que o último caia morto. Durante a guerra, imensas quantidades de sangue, lágrimas e sabedoria são perdidas. Os sonhos e esperanças das pessoas são de repente destruídos. Mas, em alguma época, existem aqueles que tem o desejo de mudar o mundo, para melhor ou para pior. (...). Mas poucas pessoas ambiciosas deixaram suas marcas, e seus nomes foram grandes dentro das páginas da história. Estas pessoas são chamadas... heróis".²

3.1

A China passava por muitas transformações naquela década. Mal Xin e Mei chegaram em Nanjing, dois anos depois, em 66, a China conhecera a Revolução Cultural. Não fora uma revolução realmente, apenas utilizada para levar poder a poucos , mas mesmo assim, a população tinha esperanças de que tudo melhoraria. A revolução duraria até 76. Com as moedas de ouro que estavam na caixa, Xin pode ter uma vida confortável, e em Nanjing podia se passar por uma rica personalidade. Mei gostava de que o filho pudesse ter oportunidades, mas ao mesmo tempo, sentia tanta falta do povoado em que vivera, sem contar que via seu filho se distanciando cada vez mais dela. Seu jeito de vestir-se, de falar, de agir, Xin parecia completamente diferente. Ela já não via no olhar do filho a inocência, mas apenas um fogo que ardia, e ela sentia que aquele fogo, consumiria seu filho.

Quando Xin completara 17 anos, Mei falecera, deixando-o só. Fora comentário de todos os “amigos” da família que compareceram as cerimônias o fato do filho de Mei não derramar uma lágrima pela senhora. De fato era que Xin não derramara mesmo uma lágrima, pois Mei não era sua mãe, e ele não lhe devia nada. Ela cuidara dele porque quisera. Era assim que ele pensava, sem falar que sua mente apenas martelava uma forma de se vingar de sua verdadeira família, de se vingar daqueles que o abandonaram. Alguns meses antes, ele conhecera um bruxo. O primeiro que via. Não era um bruxo muito querido por seus iguais, mas Tsu não ligava para isso, afinal, ele não queria nada nobre do bruxo. Fizera amizade com ele, e aos poucos, fora sabendo mais da sua sociedade por direito. A cada nova palavra que o bruxo dizia, mais e mais, Tsu tinha certeza de que tinha que se vingar, mas que não podia ser uma vingança qualquer. Poderia durar anos até se vingar, mas se vingaria com estilo, e para eles nunca se esquecerem de quem era.

As moedas de ouro continuavam a sustentá-lo, e foi com o apoio delas que Xin entrara na conceituada Universidade de Nanjing. Era 1979. Lá, o jovem resolvera estudar a medicina, e assim se tornaria um grande médico, com o prestígio necessário para que seu plano pudesse vingar e dar frutos. Na Universidade, logo ele se destacou, ganhando a confiança dos mestres, e sempre estando a frente, nas pesquisas e de seu tempo. Medicina não era uma escolha fácil, e debandava muito dinheiro naquela época, e as moedas de ouro não foram muitas para sustentá-lo e com isso, Xin começou a utilizar-se de seus conhecimentos, não na medicina, mas do mundo bruxo, e com seu contato no mundo mágico, começou a aplicar golpes e a se juntar aos bruxos negros. Mas claro que seu rosto não era muito conhecido, até mesmo por causa de todo o preconceito que existia, mas trabalhar disfarçadamente para os negros tinha suas vantagens, e dinheiro não faltava mais para o bruxo. E assim, ele vivia sua vida trouxa e na surdina da magia negra, sempre servindo como denunciador de bruxos que viviam entre os não bruxos.

Quando inteirou 26 anos, uma grande surpresa lhe bateu à porta. Um de seus melhores professores, talvez o único por quem tivera uma grande admiração e respeito na faculdade. Xin ainda era estudante, estava em um dos períodos finais, e o convite surgia em uma hora maravilhosa para o jovem. Ele faria parte de uma equipe importante, e que poderia lhe dar o status que sempre quisera.

― Tsu!

― Sim, professor!

― Gostaria de ter uma palavra com você, se me permite.

― Claro.

― Trata-se de um projeto muito interessante, e como sei de seu fascínio pela genética e combinações de cromossomos, pensei imediatamente em você, até mesmo porque sei que é um aluno muito aplicado e estudioso. Sua nota do semestre será a respeito de sua colaboração para o projeto. Não tempo agora para lhe explicar com maior profundidade, mas assim que estivermos com tudo pronto, te dou mais detalhes, meu jovem.

― Nossa, professor. Vou me sentir orgulho em fazer parte de sua equipe. – Tsu fala entusiasmadamente, enquanto balança sem parar a mão do professor, agradecendo.

― Tsu, é um projeto apenas para escolhidos, se me entende.

[...]

Trabalhar em algo muito especial era uma situação que Tsu não largaria nunca, ainda mais se aqueles estudos servissem para seus propósitos. Mas era difícil arrancar informações do professor, e Tsu já estava a ficar impaciente com respostas mal elaboradas para suas perguntas. Então, vivo como sempre fora, Tsu aproveitara um dia em que o professor deixara alguns papéis sobre uma bancada do laboratório, e com um passar ágil de olhos, ele viu algo sobre secreto – forças armadas. Seus olhos brilharam naquele instante, e não era de patriotismo, não, Xin sabia que estava envolvido em algo grande, e que aquilo tudo poderia ser usado para seus fins. Sem que ninguém percebesse, ele pegou os papéis e os guardou consigo. Algum tempo depois, ele presenciou, não de forma convidada, a uma interessante conversa de seu professor com outra pessoa, que não sabia quem era. Eles falavam sobre o tempo estar terminando e sobre a falta de avanços, em especial a falta de uma arma. Tsu começou a reunir os vários pedaços do quebra-cabeças, e um dia, colocou o professor contra a parede, e arrancou deste a confissão sobre o que estavam trabalhando.

Tsu ficou extasiado com a oportunidade que lhe caía ao colo, com as possibilidades e então, paralelo às pesquisas do professor, desenvolveu sua própria teoria, claro que sempre facilitando alguns erros do professor, e aliando seu conhecimento do mundo bruxo à ciência. Tsu então, chegou a um final, o final que o levaria a um status muito maior do que ele planejara, mas que estava pronto para assumir. Entretanto, ele não estava disposto a dividir seu prestígio, e algum tempo, em um sério acidente, o professor, chefe do projeto, veio a falecer. Tsu não mais que depressa, apresentou seu relatório e seus progressos, e não teve nenhum problema para ser indicado como o novo diretor chefe do projeto. Ele estava pronto para seu destino.

― Verás que cometeras um enorme erro, pai – balbuciara logo depois de assumir o projeto.

[...]

― Doutor Tsu, conseguimos. Está pronto – um auxiliar vinha a todo vapor falar para Xin que a experiência havia dado certo.

― Claro que consegui. É uma questão de competência. – ele falara, como quem quisesse colocar o auxiliar no seu devido lugar ― Quero acompanhamento 24 horas. Todos os exames necessários. Também quero que apliquem aquele soro de 5 em 5 dias. Não importa o que aconteça, não deixem de aplicar. Eu vou fazer o primeiro – ele então, pegou uma injeção, com um líquido translúcido, e aproximou-se de uma mulher presa a uma cama. Não olhou para ela, aliás, nem pensara em sua existência. A mulher tentava se debater, mas era impossível vencer aquelas amarras, e então, sem nem dó e piedade, ele fincou a agulha no braço dela, injetando o conteúdo para percorrer seu corpo.


3.2

Viver uma vida de aventuras. Era tudo que Ling Lawliet queria após sair de Hogwarts, e acabou por ir cursar especialização, tornando-se mais amante que nunca da arte de viver sem magia. Logo após a especialização, ela viajou por muitos cantos, junto com Kaori e Edgar e em um instante em sua vida, um convite surgira. Ser correspondente. Claro que Ling sabia que Edgar havia mexido seus pauzinhos, e apesar de não gostar muito, aproveitou a oportunidade, pois estava unindo a vontade que tinha de viver junto aos não bruxos, à arte de viver sem ser descoberta. Kaori era sua inspiração, e com quem aprendia muitas coisas, assim como quando viajara para um ponto turístico, o Caribe, e lá ficara hospedada junto com um grupo de turistas, e conhecera as pessoas mais engraçadas e mais iguais a si mesmo! Todas as experiências viravam crônicas, histórias e epístolas para sua coluna. Da paixão por escrever e falar dos muggles, ela se descobriu escritora, e com um “empurãozão” de Edgar, ela publicou seu primeiro livro. Uma reunião das melhores páginas de sua coluna. Fizera muito sucesso entre a comunidade bruxa, em especial a britânica, para quem escrevia, e assim, mais dois títulos se sucederam. Em suas andanças, Ling viajara para diversos lugares, diversos países, aprendera vários costumes, e algumas línguas. Falava fluentemente o inglês, idioma nativo, como o Francês, o espanhol e o chinês, apesar de nunca ter estado na China.

Talvez esse fora um dos poucos países que não conhecera quando andava com os pais. Mas então, o destino lhe tirou uma parte importante, tirara-lhe suas pilastras de sustentação. Kaori e Edgar vieram a falecer em um terrível acidente mágico. Um defeito na rede Flu em Portugal fizera com que seus pais não existissem mais neste plano. Junto com seus pais, vários outros bruxos também faleceram, sendo um acidente mágico que afetara até mesmo o mundo não mágico, causando a morte acidental de vários muggles. O mundo de Ling se despedaçara como um vaso de porcelana chinesa que caía de uma altura considerável. Estava com seus 23 anos e muitos planos para seguir, que foram todos deixados de lado, enquanto Ling se perdia na dor que sentia. Sua maior dor era não ter impedido os pais de pegarem aquela rede Flu, pois tivera um pressentimento dias antes, mas não dera tanta importância, o que ela nunca se perdoaria, o de não ter ouvido sua sensitividade naquele dia.

Demorou quase um ano para que a jovem pudesse enfim começar a colocar remédios na cicatriz, para que ela se fechasse, ao menos em alguns pontos, pois ela tinha certeza de que nunca se recuperaria plenamente. Assim, ela resolvera ir à China, o lugar onde nunca estivera, que sempre sua mãe demonstrava vontade de voltar. Ling iria levar a urna com as cinzas, ou o que sobrara delas, de seus pais para jogar por lá, em um templo, ou um campo. Também levava as cinzas de seu pai, Cain, para que enfim, os três pudessem se reunir mais uma vez sobre a terra.

Aquela seria a viagem de ressurgimento de Ling, em que ela tentaria encontrar novamente a paz interior, e buscar o perdão de si mesma para consigo.


3.3

― Mei, Você conseguiu absorver tudo muito bem. Nem acredito que... Aliás, nunca duvidei que pudesse. – Yuki cumprimentava sua aluna, com um carinhoso abraço. O treinamento de Mei estava chegando ao final, afinal, foram longos 7 anos de treinamento, em especial na arte Onmyojitsu, a qual Shoran ensinara a jovem com absoluta cautela e o mais escondido possível, sendo que muitas vezes ensinava à jovem em outros planos, para que evitasse de que Tsu descobrisse e impedisse o treinamento. Sim, ele estava muito feliz, afinal, Mei se tornara uma maga poderosa, principalmente para a idade que tinha, sem falar que ela se tornara realmente a filha que ele sempre quisera ter, e teria um dia.

[...]

Mei estava parada na sala, aguardando a chegada do professor Yuki, como sempre fazia. Estaria ansiosa pelo encontro, três vezes na semana, mas naquele dia, ela não queria ver o professor, torcia para que ele não viesse. Tsu estava ao seu lado, sorria de um canto a outro da face. Mei podia ver seus pensamentos, mas não conseguia entender o porquê deles. Mas uma coisa ela sabia: não o desobedeceria, nunca.

― Senhor Shoran. Creio que seus préstimos já não são mais necessários. – ele falara para Yuki, com um sorriso nos lábios. Enquanto ele sorria, Mei ultrapassava várias camadas do inconsciente do professor, em busca de seu intimo, pois temia por ele.

Alguns instantes de silêncio pareciam séculos intermináveis, e então, a hora chegara. Mei sabia o que tinha que fazer e Yuki sabia também como deveria terminar tudo. Não era uma coisa fácil, mas ambos sabiam que seus destinos, naqueles momentos eram aqueles.

― Mate-o X9919 – fora a ordem que Xin dera, enquanto virava-se de costas e saía da sala.

Tudo acontecera rápido o bastante para olhos comuns, demorado por demais para os corações envolvidos...

[...]

― Ótimos avanços! – um homem fardado dava os parabéns para outro homem, vestido com um jaleco branco, com uma prancheta nas mãos, enquanto ambos olhavam para algum atrás de uma parede de vidro. ― espero que esteja sobre seu completo controle, senhor Xin.

― Claro. Ainda tenho mais a mostrar, muitos avanços. O projeto pode ter demorado, senhor, mas posso lhe dizer que é um sucesso.

― Eu falo quando for um sucesso, Tsu! – ele falava, como se colocasse Xin no seu devido e insignificamente lugar. ― Prepare uma apresentação completa. Trarei todos para uma demonstração final, e aí sim, eles se curvarão aos nossos pés! – ele falou, no passo que Xin apenas assentiu, curvando o corpo para frente, enquanto um sorriso sádico ganhava seu rosto.


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² - Introdução de "My Conquest is the Sea of Stars"- Legend of the Galactic Heroes
2 Responses
  1. Obrigadão pelas palavaras em meu blog e pela visita.
    Continue sempre a aparecer, pois é o meu maior prazer ser lida e entendida.
    Venha, por favor, conhecer o Rio, você irá amar.
    Bjão


  2. Two Ways Says:

    Obrigada pela visita.

    Já está agendado na minha lista de lugares a visitar!
    E vou aparecer sempre!


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