Two Ways
Existe um capítulo no livro "Memórias Póstumas de Brás Cubas" que, ao ler pela primeira vez, uma aluna do segundo grau (ensino médio), pressionada para ler inúmeras obras literárias, para inúmeras análises literárias como treinamento para o vestibular, deixou-me feliz, pois era um capítulo inteiro feito com pontos. Não me recordo qual o capítulo no momento, mas hoje eu entendo aquele capítulo como uma genialidade do escritor, Machado de Assis, assim como muitos outros livros não só dele, mas de outros escritores tem essas genialidades. Eu me fico perguntando o que se passou na cabeça de Machado para fazer aquele capítulo, ou melhor, o que se passou na cabeça de Brás Cubas para em suas memórias dedicar um capítulo todo para "seus pontinhos".

Estou fazendo uma disciplina de mestrado, em Antropologia Social, e a disciplina, tem muito a ver com literatura, e as vezes acho que a própria professora poderia se dar muito bem na literatura, uma vez que ela tem momentos de verdadeira literata e não de antropóloga XD. Pois bem, nessa disciplina, estudamos O Sertão, como uma região imaginada. Ainda não consegui desconstruir a ligação de sertão com o Nordeste brasileiro, mas para essa disciplina, o Sertão é uma região imaginada, em que colocamos tudo o que a região "urbanizada/ civilizada / evoluída" não quer para ela, tal como a aridez, a pobreza, as faltas de condições mínimas que garantam uma vida mais humana às pessoas. Para ela, o sertão está em todo o lugar, não apenas em um espaço físico delimitado por vários pensadores que buscam o sertão apenas no Nordeste do Brasil.

Assim, nessa perspectiva, lemos muitos textos, e devo dizer que estou gostando muito, pois todos praticamente são de teóricos da literatura, sem falar que discutimos a respeito de duas grandes obras "Grande Sertão: Veredas" e "Os Sertões", o primeiro de Guimarães Rosa e o segundo de Euclides da Cunha. Confesso que quando li esses dois romances (durante o ensino médio), o primeiro com menos voracidade que o segundo, pois o segundo trata da Guerra de Canudos, não imaginava quão grande poderiam ser as possibilidades de interpretações que os dois grandes escritores do país poderiam fornecer por meio de suas obras.

Isso me leva a pensar se realmente estamos preparados para lermos os clássicos durante o ensino médio, uma vez que não temos tanta percepção, pelo menos eu não tinha, apesar da professora sempre nos alertarmos para buscarmos a intertextualidade e a interpretação da obra, mas a gente sempre acaba buscando identificar apenas as características da obra que a fazem ser ligadas a esta ou aquela escola literária.

Não sei como é hoje essas análises, uma vez que se fala tanto na interdisciplinariedade das disciplinas, e procura-se mais a interpretação do que as questões "decorebas", principalmente com a pressão total que os jovens sofrente frente ao Vestibular, mas acho que se talvez pudéssemos trabalhar no ensino médio essa compreensão, clássicos da literatura, não seriam uma tortura para os alunos que precisam o ler. Assim como alguns foram tortura para mim, durante esse período, hoje, formada na área de letras, eu torno a ler os livros e vejo que há tantas possibilidades de interpretações que não me foram apresentadas naquela época e poderiam ter me feito ter uma leitura tão mais agradável que fico pensando se talvez não é a hora de se mudar a abordagem da Literatura no ensino médio...

Mas são apenas cogitações de uma mente que está começando a se expandir e a ser instigada a percorrer novos caminhos e a sair do seu tão costumeiro e conhecido trajeto de ideias prontas e interpretações prontas...
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